terça-feira, 17 de novembro de 2009

Bolsa vive boa expectativa para 2010

Foto Reinaldo Chaves

A euforia com o Brasil e o enfraquecimento global do dólar fizeram o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) atingir nesta semana o maior nível em 15 meses, com mais de 67 mil pontos. A pontuação do Ibovespa aumenta na medida em que sobe o valor das ações.

A Bolsa foi um dos investimentos que melhor se recuperou da crise financeira mundial, que teve o marco inicial na quebra do banco norte-americano Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008.

O chefe de análise da Planner Corretora e vice-presidente do Apimec-SP (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), Ricardo Tadeu Martins, trabalha com uma expectativa de alta na Bolsa para os próximos meses e em 2010, embora reconheça que a grande alta recente talvez tenha sido exagerada e sofra alguns ajustes, principalmente agora com o novo IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre capital externo na Bolsa. “Mas temos que analisar a Bolsa sempre num prazo mais extenso, de longo prazo. Para 2010, 2011, 2012, o Brasil deve receber uma série de investimentos que vão ajudar muito a economia”, comenta.

Ricardo ficou em 8º lugar, classificado entre os 10 melhores analistas de ações em 2008, em levantamento realizado pelo Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) São Paulo, encomendado pela Agência Estado.

Para exemplificar, ele cita a evolução natural da economia depois da crise, com crescimento do PIB projetado para 2010 de 4,8% segundo o Banco Central. Muitos investimentos postergados por causa da crise vão ser retomados com a recuperação brasileira e internacional. Além disso, num horizonte mais longo, são aguardados os investimentos que vão dar sustentação a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Ricardo opina que a queda do mercado norte-americano foi muito bem assimilada no Brasil. “O governo percebeu que se não for fominha na questão tributária ele pode viabilizar mais investimentos, consumo e empregos, tanto é que a isenção do IPI para linha branca está sendo prorrogada”, diz.

Para Ricardo, o investidor estrangeiro está ciente de todos esses trunfos brasileiros e além disso sabe que o país tem indicadores econômicos de resultados iguais ou melhores que países como China, Índia ou nações desenvolvidas mais atingidas pela crise, como a Alemanha e França.

Terceira nota
Por isso, muitos recursos estrangeiros trocaram de portfólio, de país. Isso foi ainda mais estimulado para o Brasil quando, no fim de setembro, o Brasil foi coroado com a terceira nota de grau de investimento - seleto grupo de países considerados de baixo risco para se investir - pela agência de classificação de risco Moody's. Segundo os analistas os investimentos de maior peso só chegam a um país depois da terceira nota.

A primeira agência de classificação de risco a considerar o Brasil “investment grade” foi a Standard & Poor's, em 30 de abril de 2008. Em seguida, foi a vez da Fitch Ratings, em 29 de maio do ano passado.

Para Ricardo, se a Bolsa tiver pequenas baixas de 1% ou 2% isso não será motivo de temor porque as altas recentes foram muito expressivas e os volumes negociados voltaram a patamares anteriores da crise. “As quedas são bem absorvidas. Por dia o volume médio de negócios é de R$ 5,4 bilhões e na semana passada tivemos R$ 6,6 bilhões. Não adianta nada a Bolsa subir, mas com volumes pequenos de negócios”, comenta.

Ele pondera também que não há nenhum fato esperado para o futuro próximo que faça as Bolsas oscilarem drasticamente no mundo. Os bancos norte-americanos já divulgaram resultados do terceiro trimestre que mostram resultados consistentes, que foi onde justamente surgiu a crise.

Apenas causas políticas na opinião de Ricardo poderiam causar mudanças exageradas nos mercados. Sobre a campanha presidencial no Brasil em 2010, ele pondera que o mercado financeiro é sim atingido negativamente ou positivamente, mas que os efeitos mais severos não estão mais na Bolsa ou no dólar, mas nos juros. “Eles [juros] podem oscilar porque a questão fiscal do Brasil está se deteriorando e existe a incerteza sobre a candidatura ou não do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao governo ou Senado”, comenta.

Para Ricardo, atualmente não há sinais que os fluxos de capitais estrangeiros podem procurar outros países. Ele compara a Bolsa de Valores brasileira negociando R$ 6 bilhões por dia e a mexicana apenas R$ 1 bilhão. “Nosso país tem liquidez. No período recente o investidor tirou dinheiro do Brasil apenas porque precisava cobrir buracos de outros países sem liquidez”, analisa.


Mantega diz que taxação de capital quer evitar nova ‘bolha’
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o objetivo do governo, ao taxar os investimentos estrangeiros na Bolsa de Valores e nas aplicações de renda fixa em 2% sobre o IOF, é evitar uma "bolha" na bolsa e a sobrevalorização do real, o que, segundo ele, poderia “causar danos para a produção brasileira”.

“Nossa preocupação não é a arrecadação. Este é um imposto regulatório e tem como objetivo equilibrar a entrada de capitais externos na economia brasileira e evitar excessos, de modo a não causar uma bolha na bolsa de mercadorias, nem uma sobrevalorização do real”, disse o ministro em entrevista para a Agência Brasil.

Mantega avisou, porém, que as medidas adotadas não devem evitar alguma valorização do real e reforçou que o risco está na sobrevalorização da moeda. “Acredito que [as medidas] não vão evitar a valorização do real porque ele reflete a força da economia”, avaliou. “E o Brasil é uma economia forte. Portanto, a moeda é forte.” O ministro alertou para o fato de que o real não pode se fortalecer demais sob o risco de enfraquecer a atividade produtiva. Segundo ele, é necessário um certo tempo para que as medidas adotadas surtam efeito. “O que colocamos foi um pedágio para a entrada excessiva [de dólares].”

Nos anos 90, o governo passou a cobrar IOF de 5% sobre capital estrangeiro que entrasse no País. A alíquota chegou a 9% e voltou a ser reduzida antes de ser eliminada, em 1999.

Segundo Ricardo Denadai, economista sênior do Santander Asset Management, esta medida pode trazer insegurança aos investidores estrangeiros, especialmente no mercado de ações, em relação às regras do jogo. Vale a pena lembrar que o mercado de ações está sendo uma importante fonte de financiamento do investimento das empresas. A economia brasileira tem uma necessidade enorme de investimentos privados, especialmente agora com a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos, em 2016.

Adicionamente, a medida pode ser ineficaz, pelo fato de a apreciação do Real, na nossa avaliação, ser uma conseqüência da depreciação do dólar em todo o mundo e do sucesso do Brasil, pois é hoje uma das economias mais bem posicionadas, com perspectivas fortes de recuperação, sustentadas pela sua demanda interna (mercado de trabalho forte e expansão do crédito).

"Avaliamos que mesmo com essa medida, a tendência do Real é a de valorização e que o melhor seria focar nas relações de comércio externo e ganhos de produtividade dos nossos setores de exportação", diz Denadai.

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